A mudança na presidência dos Estados Unidos e a consequente perspectiva de um possível retorno do embate comercial com a China, com aumento da taxação das importações de forma mútua, podem beneficiar o Paraná, que já tem no país asiático o seu maior destino de exportações.
De olho nesta janela de oportunidade, o Governo do Estado tem buscado investir em melhorias contínuas da estrutura portuária, que é o grande canal por onde os produtos paranaenses ganham espaço no mercado mundial, e no fortalecimento das relações comerciais com a China.
Dos US$ 20 bilhões obtidos com a venda de produtos paranaenses entre janeiro e outubro de 2024, US$ 5,4 bilhões foram comprados pelos chineses, o equivalente a 27% das receitas do ano. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), analisados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
No mesmo período, as exportações estaduais para os Estados Unidos somaram US$ 1,2 bilhão, pouco mais de um quarto do volume do 1º colocado. Depois, aparecem as exportações para a Argentina (US$ 951 milhões), México (US$ 849 milhões) e Paraguai (US$ 526 milhões).
Este potencial crescente das exportações para China também pode ser percebido a partir do avanço econômico do país asiático frente aos Estados Unidos. Em 2003, a economia chinesa teve um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1,66 trilhão, enquanto os EUA produziram US$ 11,52 trilhões. Em 2023, o PIB da China chegou a US$ 17,79 trilhões, um crescimento de 971% em duas décadas. No mesmo período, os norte-americanos tiveram um aumento de 121% no PIB, alcançando US$ 25,46 trilhões.
Para fortalecer ainda mais essa relação comercial com o país asiático, o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, e o presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, estiveram na China na última semana. Entre outras agendas, os dois assinaram na quarta-feira (6) uma carta de intenções com representantes da China Merchants Port Holdings (CMPort), que é uma das maiores operadoras globais de terminais de contêineres.
“Em 2024, o Brasil e a China completaram 50 anos de relações diplomáticas e esta assinatura é um marco nas relações entre os dois países em prol do crescimento comercial e fortalecimento de laços. O acordo tem um forte potencial para gerar riqueza sustentável e promover ainda mais o desenvolvimento econômico no Paraná”, comentou o secretário estadual de Infraestrutura e Logística.
Desde março de 2018, quando a CMPort passou a controlar o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), o grupo mantém uma parceria estratégica com a Portos do Paraná e o Governo do Estado para a execução de projetos e investimentos. Em 2024, o TCP ocupa a 2ª colocação entre os maiores movimentadores de contêineres do Brasil.
O compromisso firmado pela Portos do Paraná com a empresa busca a promoção conjunta e colaboração comercial, a construção de portos verdes e inteligentes, a aplicação de novas tecnologias, o intercâmbio de pessoal para troca de experiências e a cooperação técnica sobre a agenda ESG.
Na quinta-feira (7), a comitiva paranaense participou de uma reunião com representantes do Ministério dos Transportes chinês. O foco do encontro foi o aprofundamento das relações entre o Estado e a China com o objetivo de aumentar os investimentos no Paraná buscando uma logística ainda mais eficiente para os portos paranaenses.
CRESCIMENTO – Em 1997, ano do início da série histórica do MDIC, a China representava 4,3% das exportações paranaenses, com um total de US$ 206,8 milhões em receita obtida. Com algumas exceções, essa proporção seguiu uma tendência de alta ao longo dos anos, subindo para 10,4% em 2003 (US$ 738,5 milhões), 22% em 2013 (US$ 4 bilhões) e 28,2% em 2023 (US$ 7,1 bilhões).
O principal produto que alimenta essa relação comercial entre o Paraná e a China é a soja, que representa o maior volume de exportações tanto em peso quanto em dinheiro. Em 2003, a venda da soja paranaense ao mercado chinês rendeu US$ 461,2 milhões, valor que saltou para US$ 3,3 bilhões em 2013 e US$ 5,4 bilhões em 2023.
Nos oito primeiros meses de 2024, mais de 11,7 milhões de toneladas de soja saíram dos portos paranaenses com destino ao mercado chinês. O volume foi 5,72% maior do que as 11,1 milhões de toneladas de soja que foram exportadas no mesmo período do ano passado. Com isso, a participação do grão em relação ao total de exportações para a China subiu de 90% em 2023 para 91,36% neste ano no peso total.
Os números do Paraná podem se tornar ainda mais expressivos caso o a China volte a subir as tarifas de importação dos produtos agrícolas originados nos Estados Unidos, como já ocorreu no primeiro governo de Donald Trump. Se isso ocorrer, a estimativa de associações de produtores norte-americanos é de uma queda de até 50% nas exportações esperadas de soja para o país asiático nos próximos anos.
Outro produto que vem ganhando cada vez mais peso nesta relação comercial é a carne de frango, cuja grande movimentação acontece justamente via TCP. Em 1997, este produto alimentício representava apenas US$ 206 mil, o equivalente a 0,1% das exportações para a China. Essa proporção dobrou até 2003, para 0,21% (US$ 1,6 milhão), com novo salto para 3,64% em 2013 (US$ 144,9 milhões) e chegando a 11,65% no ano passado (US$ 830,8 milhões).
Enquanto a China representa o maior mercado consumidor da carne de frango do Paraná e do Brasil em geral, ela é apenas a 7ª maior compradora da produção dos Estados Unidos.
MELHORIAS PORTUÁRIAS – Para que o desempenho do Estado continue melhorando no mercado internacional, a capacidade de movimentação de cargas pelos portos de Paranaguá e Antonina precisa acompanhar esse ritmo de crescimento. Nos últimos cinco anos a Portos do Paraná alavancou a movimentação de cargas em mais de 12 milhões de toneladas, saindo de 53 milhões para 65 milhões de toneladas movimentadas por ano.
A melhora no desempenho passa, entre outros fatores, pelos investimentos do Governo do Estado na infraestrutura e logística dos portos, assim como na modernização do modelo de gestão portuária.
A obra que melhor simboliza esta nova fase é o Moegão, considerada a maior intervenção portuária em execução no Brasil, com investimento de R$ 592 milhões. A estrutura, que deverá ser concluída até o segundo semestre de 2025, vai aumentar em 65% a capacidade de desembarque simultâneo de cargas por trem no Porto de Paranaguá, que passará de 550 para 900 vagões por dia – sendo grande parte destes carregamentos de grãos de soja.
O Paraná também foi o primeiro estado a receber autonomia para administrar contratos de exploração de áreas dos portos organizados. Desde 2019, a Portos do Paraná já conduziu cinco leilões, que alavancaram cerca de R$ 4 bilhões em melhorias. Mais três leilões – das áreas PAR 14, 15 e 25 – devem atrair outros R$ 2 bilhões em investimentos privados.
Outro destaque é a concessão do canal de acesso do Porto de Paranaguá, um projeto inédito no País, que abrangerá a ampliação, manutenção e exploração do acesso aquaviário por 25 anos.
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